domingo, 1 de abril de 2012

STELLA MARINI

 
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que não ando só
Não mexe não.Eu tenho zumbi, bezouro, o chefe dos tupis
Sou tupinambá, Tenho os erês, caboclo boiadeiro, mãos de cura, morubixabas, cocares, arcos-íris, zarabatanas, curare, flechas e altares
A velocidade da luz, o escuro da mata escura, o breu, o silêncio, a espera
Eu tenho Jesus, Maria e José.Todos os pajés em minha companhia
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou.Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que não ando só
Não mexe não. Não misturo, não me dobro
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo
Ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpo
Garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem
Em meu coração Maria acende sua luz
E me aponta o caminho
Me sumo no vento
Cavalgo no raio de Iansã
Giro o mundo
Viro, reviro
Tô no recôncavo, tô em Fez
Vôo entre as estrelas
Brinco de ser uma
Traço o Cruzeiro do Sul
Com a tocha da fogueira de João menino
Rezo com as três marias
Vou além
Me recolho no esplendor das nebulosas
Descanso nos vales, montanhas
Durmo na forja de Ogum
Mergulho no calor da lava dos vulcões
Corpo vivo de Xangô
Não ando no breu nem ando na treva
É por eu vou
Que o santo me leva
Medo não me alcança
No deserto me acho
Faço cobra morder o rabo
Escorpião virar pirilampo
Meus pés recebem bálsamos
No unguento suaves das mãos de Maria
Irmã de Marta e Lázaro
No oásis de Bethânia
Pensou que ando só?
Atente ao tempo
Não começa, nem termina
É nunca é sempre
É tempo de reparar
Na balança de nobre cobre que o rei equilibra
Fulmina o injusto
Deixa nua a justiça
Eu não provo do teu fel
Eu não piso no teu chão
E pra onde você for não leva meu nome não
Onde vai valente?
Você secou
Seus olhos insones secaram
Não vêem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira
Seus ouvidos se fecharam a qualquer música, qualquer som
Nem o bem nem o mal penso em ti
Ninguém te escolhe
Você pisa na terra mas não a sente
Apenas pisa
Apenas vaga sobre o planeta
E já nem ouve as teclas do teu piano
Você está tão mirrado
Que nem diabo te adiciona
Não tem alma
Você é o oco do oco do oco
Do sem fim do mundo
O que é teu já ta guardado
Não sou eu que vou lhe dar
Não sou eu. Eu posso engolir você
Só para cuspir depois
Minha fome é matéria que você não alcança
Desde o leito do peito de minha mãe
Até o sem fim dos versos, versos, versos
Que brotam no poeta e toda poesia
Sob a luz da lua. Que deita na palma da inspiração de Caymi
Se choro. Quando choro minha lágrima cai
É pra regar o capim que alimenta a vida
Chorando eu refaço as nascentes que você secou
Se desejo. O meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio
Vivo de cara para o vento na chuva
E quero me molhar. O terço de Fátima e a cordão de Gandhi cruzam meu peito. Sou como a haste fina que qualquer brisa verga
Mas nenhuma espada corta
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que não ando só
Eu não ando só

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