domingo, 25 de outubro de 2009

DISCURSO DO PRESIDENTE DA COSTA RICA




Palavras do Presidente Oscar Arias da Costa Rica na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, 18 de abril de 2009:
Proferido na presença do Lula e demais presidentes latino-americanos, incluído o "manequim" do Equador, o caloteiro Corrêa, abaixo nominalmente citado.



"ALGO HICIMOS MAL"

Palavras do Presidente Oscar Arias da Costa Rica, na Cúpula das
Américas em Trinidad e Tobago, 18 de abril de 2009

"Tenho a impressão de que cada vez que os países caribenhos e
latino-americanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da
América, é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas. Quase
sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados,
presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo.

Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes de que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país. Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.

Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem
nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como
um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.

Há também uma diferença muito grande. Lendo a história da América
Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que
a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português,
que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade
sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos
peregrinos que chegaram aos Estados Unidos.

Faz 50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país
como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coréia
do Sul. Faz 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que
Cingapura, e hoje Cingapura em questão de 35 a 40 anos é um país com
$40.000 de renda anual por habitante. Bem, algo nós fizemos mal, os
latino-americanos.

Que fizemos errado? Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal.
Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos. Essa é a escolaridade
média da América Latina e não é o caso da maioria dos países
asiáticos. Certamente não é o caso de países como Estados Unidos e
Canadá, com a melhor educação do mundo, similar a dos europeus. De
cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América
Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário. Há
países que têm uma mortalidade infantil de 50 crianças por cada mil,
quando a média nos países asiáticos mais avançados é de 8, 9 ou 10.

Nós temos países onde a carga tributária é de 12% do produto interno
bruto e não é responsabilidade de ninguém, exceto nossa, que não
cobremos dinheiro das pessoas mais ricas dos nossos países. Ninguém
tem a culpa disso, a não ser nós mesmos.

Em 1950, cada cidadão norte-americano era quatro vezes mais rico que
um cidadão latino-americano. Hoje em dia, um cidadão norte-americano é
10, 15 ou 20 vezes mais rico que um latino americano. Isso não é culpa
dos Estados Unidos, é culpa nossa.

No meu pronunciamento desta manhã, me referi a um fato que para mim é
grotesco e que somente demonstra que o sistema de valores do século
XX, que parece ser o que estamos pondo em prática também no século
XXI, é um sistema de valores equivocado. Porque não pode ser que o
mundo rico dedique 100.000 milhões de dólares para aliviar a pobreza
dos 80% da população do mundo "num planeta que tem 2.500 milhões de
seres humanos com uma renda de $2 por dia" e que gaste 13 vezes mais
($1.300.000.000.000) em armas e soldados.

Como disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste $50.000
milhões em armas e soldados. Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo?

Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta
com muita razão, é a falta de educação; é o analfabetismo; é que não
gastamos na saúde de nosso povo; que não criamos a infra-estruturam necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários para deter a degradação do meio
ambiente; é a desigualdade que temos que nos envergonhar realmente; é
produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos
educando nossos filhos e nossas filhas.

Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece, no entanto que
estamos nos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de
que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao
cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou. Temos que aceitar que este
é um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que
toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos asiáticos não dos
latino-americanos. E eu, lamentavelmente, concordo com eles. Porque
enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos
discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor? capitalismo,
socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, social
cristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista
para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*. Para
só citar um exemplo, recordemos que quando Deng Xiaoping visitou
Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus
próprios vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito
acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas
que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a verdade, queridos
camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o
que me interessa é que cace ratos". E se Mao estivesse vivo, teria
morrido de novo quando disse que "a verdade é que enriquecer é
glorioso". E enquanto os chineses fazem isso, e desde 1979 até hoje
crescem a 11%, 12% ou 13%, e tiraram 300 milhões de habitantes da
pobreza, nós continuamos discutind o sobre ideologias que devíamos ter enterrado há muito tempo atrás.

A boa notícia é que isto Deng Xiaoping o conseguiu quando tinha 74
anos. Olhando em volta, queridos presidentes, não vejo ninguém que
esteja perto dos 74 anos. Por isso só lhes peço que não esperemos
completá-los para fazer as mudanças que temos que fazer.

Muchas gracias."

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